O mercado imobiliário está preparado para um novo ciclo?

Há mais de um ano registrando números históricos, o mercado imobiliário já começa a ser cercado por algumas especulações, como a alta dos juros, a escassez de crédito e o aumento do preço dos imóveis. Mesmo acreditando que ainda exista um horizonte bastante propício para os negócios, também compreendo essa preocupação, principalmente sob a perspectiva de que o mercado imobiliário historicamente vive de ciclos e depende de muitos fatores para continuar gerando um volume tão grande de oportunidades. 

O primeiro fator é a própria taxa Selic que, como se sabe, foi a principal motivadora da queda das taxas de juros de financiamentos imobiliários. Após registrar 2% a.a., o menor patamar da história, ela agora começa a subir novamente como uma alternativa para controlar a inflação, já registrando 3,5% ao ano. 

Pela lógica, os financiamentos deveriam ir pelo mesmo caminho, certo? Não se os bancos decidirem segurar as taxas de juros, evitando repassar este aumento ao consumidor final. 
Para eles, oferecer taxas mais atrativas ainda é algo muito lucrativo, pois o custo para captar recursos da poupança é muito baixo. A poupança, além de ser a maior fonte de captação de recursos para o financiamento imobiliário, também é uma modalidade ainda muito utilizada pelos brasileiros quando o assunto é guardar dinheiro. Nesse sentido, quanto maior são os investimentos na poupança maior também será a disponibilidade de crédito, outra preocupação bastante forte no mercado imobiliário. 

O receio de haver uma escassez na disponibilidade de crédito não é nenhuma novidade. Ela sempre foi uma preocupação do mercado imobiliário, levantada normalmente nesta época do ano, quando o cenário para o segundo semestre já começa a ser projetado. Desta vez, os rumores são motivados pelo volume de empréstimos que, de fato, é cada vez maior. No primeiro trimestre deste ano, o montante financiado com recursos da poupança mais do que dobrou em relação ao mesmo período do ano passado. No total, o crescimento foi de 112,8%, então se pensarmos por este lado, o sinal de alerta até pode existir, mas não creio ser motivo de  preocupação. 

Quanto ao preço dos imóveis, mesmo que ainda não tenhamos testemunhado nenhuma mudança expressiva, quem pretende comprar um imóvel nos próximos meses deve sim ficar mais atento às oportunidades. Como muitos lançamentos foram represados pela pandemia, o mercado está bastante aquecido para a compra e venda de imóveis usados. A demanda é grande, a comercialização é cada vez maior e o estoque, por consequência, está diminuindo principalmente para imóveis que se tornaram os preferidos depois da pandemia. A busca por espaços maiores que proporcionem uma maior “liberdade privativa” fez a procura por casas disparar. Casas entre R$ 600 mil e R$ 800 mil, por exemplo, já possuem mais procura do que disponibilidade. O mesmo vale para terrenos, especialmente em condomínios fechados. Portanto, o que deve ocorrer com o mercado imobiliário mais cedo ou mais tarde é o que ocorre em qualquer segmento onde a demanda é maior do que a oferta: aumento no preço dos produtos. 

O que quero dizer é que depois de um ano inteiro de oportunidades e números recordes, é esperado que o mercado imobiliário comece a desacelerar em algum momento e assuma um ritmo mais constante. De forma alguma isso deve colocar os negócios em risco. Muito pelo contrário! Faz parte da consolidação de um segmento forte e bastante competitivo que ainda deve gerar grandes resultados pela frente.